O chá: do Oriente para o Ocidente

À data da chegada dos portugueses a águas orientais (1498), o consumo do chá já estava implantado entre as regiões influenciadas pela civilização chinesa, caso da Coreia, Japão, Vietname, Tibete e Mongólia. No entanto, só por volta de 1549 aparece mencionado o seu consumo pelo P.e Francisco Xavier, onde o jesuíta conta como os japoneses bebiam “no imverno aguoa de hũas ervas que não alcamçey saber que ervas erão”. A menção do chá surgiu no quadro da expansão e fixação portuguesa no Extremo Oriente, região central para o cultivo do chazeiro e consumo da bebida. Foram as Ordens Religiosas, os Dominicanos, mas essencialmente os Jesuítas, quem serviu de mediador cultural na transmissão do conhecimento sobre o chá, a beberagem em primeiro lugar e, posteriormente, a planta. Houve membros da Companhia de Jesus que desenvolveram uma genuína apreciação pela bebida e pela cerimónia do chá (chanoyu) e a descreveram com detalhe ou, pelo menos, procuraram entendê-la à luz da cultura e da vida japonesa.

Nesta mediação cultural o P.e João Rodrigues (1561-1633), pertencente à Companhia de Jesus, conhecido pelo nome de Tsuzzu, que significa "intérprete", desenvolveu uma ação fundamental para a compreensão, apreciação e prática do chá. No exílio macaense escreveu a História do Japão onde decantou em quatro capítulos a história do chá em solo japonês e foi ainda mais longe, porque descreveu a planta (Camellia sinensis (L.) Kuntze) pela primeira vez, a forma de colher a folha, de a preparar e os diversos tipos de chá daí resultantes, bem como as qualidades da infusão, onde emergem as virtudes medicinais.


 

Durante o século XVII, os holandeses, recém-chegados à Ásia, tornaram-se os agentes divulgadores e mercantis no que diz respeito ao chá, passando a ser os únicos europeus com acesso autorizado ao Japão desde a década de 1640 e, a partir de Nagasaqui, mantiveram relações comerciais em exclusividade, traficando inclusive em chá, mais exatamente o matcha, a forma que parece ter dominado o consumo europeu até ao início do século XVIII.

O início do comércio de chá está claramente associado aos holandeses, tendo o seu consumo iniciado modestamente na Europa, como mezinha, na segunda metade do século XVII e só em finais deste século, a par do café, o seu comércio começou a disparar. Os holandeses conseguiram encontrar um nicho para vender o chá como bebida exótica, a par do café e do chocolate, com base nas suas divulgadas qualidades medicinais.

Apenas no século XVIII as variedades chinesas em folha, com destaque para os ditos chás «pretos», na realidade vermelhos, onde predominava o bui (wuyi), tiveram sucesso por serem mais baratos, mas o chá verde gozou de preferência, mesmo no mercado português, em que a variedade sanlo (singlo), dominou durante todo o século.

Os chás em folha chineses, ao serem mais baratos que o exclusivista e caro matcha, puderam ser apreciados por pessoas de menos recursos económicos. Os ingleses habituaram-se a beber chá na refeição com que fechavam o dia de trabalho, mais tarde chamada “High Tea”, onde as infusões robustas de origem chinesa aguentavam bem com a comida inglesa. A moda do chá acabou por contagiar todos os estratos da sociedade inglesa, em boa parte ditada pela mudança de horários das refeições registado desde o século XVII, cada vez mais espaçadas entre si, sobretudo nos segmentos privilegiadas, pelo que se tornou hábito beber a infusão duas vezes por dia, em particular entre o jantar e a ceia, servidas uma a meio da tarde e a outra ao princípio da noite, respetivamente.

O consumo do chá despontou na Europa quando os espíritos mais empreendedores começaram a publicitar as virtudes da bebida nas páginas dos jornais ou usando folhetos. Fruto da liberalização do seu comércio e da sua plantação a uma escala industrial nas colónias europeias o chá vulgarizou-se, a partir da segunda metade do século XIX.


 

 

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